Web Summit Rio 2025 – Dia 02

WS Dia 02

A jornada do segundo dia no Web Summit Rio 2025: quando a inteligência se torna intenção

No segundo dia do Web Summit Rio 2025, o protagonismo absoluto foi da inteligência — em suas diversas camadas: artificial, estratégica, emocional e social. Se no primeiro dia presenciamos a abertura de caminhos, o segundo consolidou o tom de um evento que não mais especula o futuro, mas ensaia sua coreografia em tempo real. Da indústria alimentar à justiça, da educação à publicidade, vimos demonstrações práticas de como o mundo está se reprogramando para um novo tipo de decisão: mais assistida, mais distribuída e, ironicamente, mais humana.

A inteligência que aprende… e age

A palestra de Patricia Florissi, executiva do Google Cloud, foi uma aula magistral sobre a trajetória da IA — da percepção ao raciocínio. “Estamos entrando na era dos agentes, sistemas com capacidade de planejar, agir e evoluir sozinhos”, afirmou, ao explicar como modelos como o Gemini 2.5 Pro estão redefinindo o conceito de cognição artificial. Mais do que prever, a nova geração de IA começa a inferir contexto, personalizar decisões e até sugerir caminhos em cenários complexos. A analogia com o cérebro humano não foi apenas metafórica: foi estruturante. “A IA agora opera em multiespacialidade. Como uma música que compreende texto, imagem, código e som ao mesmo tempo”, resumiu.

O ponto central foi claro: a tecnologia deixa de ser apenas uma ferramenta para se tornar uma entidade de colaboração criativa. Mas, para isso, será preciso que pessoas, governos e empresas aprendam a liderar agentes, e não apenas projetos.

Marcas queridas não nascem por acaso: elas são construídas por sistemas inteligentes

Na masterclass “The tech playbook for building beloved brands”, executivos e estrategistas apresentaram o novo arcabouço tecnológico por trás das marcas mais amadas da atualidade. A combinação de IA generativa, dados contextuais, experiências físicas amplificadas por tecnologia e o uso criativo de plataformas como realidade aumentada está moldando um novo tipo de conexão — não apenas com consumidores, mas com comunidades.

Casos como refrigeração inteligente de pedidos, uso de AR para personalização em loja e automações baseadas em IA para recomendar produtos e treinar vendedores demonstram que a transformação não é só estética, é estrutural. O desafio, segundo os palestrantes, é construir essa jornada com inteligência emocional e storytelling tecnológico, garantindo que o digital não apague o humano, mas o expanda.

Brittany Kaiser

Dados: de ativos invisíveis a dividendos distribuídos

Em uma das conversas mais provocativas do dia, Brittany Kaiser, fundadora da Own Your Data Foundation, abordou o futuro dos dados pessoais com uma proposta contundente: os dados devem gerar valor direto para quem os produz. Ao lado de Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central do Brasil), discutiu-se o papel do Brasil como pioneiro em sistemas que transformam contratos em ativos monetizáveis, com regras claras de consentimento e opt-out.

A metáfora usada foi poderosa: se os dados são o novo petróleo, precisamos de um modelo energético mais democrático. Os projetos em curso com instituições financeiras e plataformas de contratos digitais apontam para um futuro onde cidadãos poderão ganhar pequenas quantias por sua participação em ecossistemas digitais — um passo importante para a soberania de dados em países emergentes.

RH, regulação e startups: o Brasil como laboratório global

A conversa entre Fernando Gadotti, CEO e fundador da TAKO, e Angela Strange, general partner da Andreessen Horowitz, revelou como a complexidade regulatória do Brasil, muitas vezes vista como um obstáculo, pode se tornar uma vantagem competitiva. “Se você consegue construir uma solução aqui, está pronto para o mundo inteiro”, disse Fernando.

A grande ideia? Substituir tarefas repetitivas por IA operacional e transformar departamentos inteiros (como o de RH) em hubs estratégicos com agentes autônomos. Em vez de apenas compliance, a proposta é produtividade com ética — e com respeito à privacidade. A regulação, nesse caso, é vista não como inimiga da inovação, mas como um guia para soluções mais robustas.

IA na indústria alimentar: o algoritmo que tempera o futuro

A apresentação do NotCo foi um espetáculo à parte. Com uma narrativa envolvente, seu CEO demonstrou como o algoritmo Giuseppe revolucionou a criação de alimentos à base de plantas — não apenas simulando sabor, mas antecipando desejos culturais. Casos como a criação de uma maionese à base de plantas ou um “popcorn que mantém acordado” durante a série da Netflix escancaram a potência criativa da IA aplicada à nutrição, ao comportamento e ao marketing.

Mais do que tecnologia de produto, o que se viu foi inteligência cultural aplicada à indústria alimentar. Uma nova fronteira onde algoritmos decifram experiências e propõem soluções que não caberiam no brainstorming humano tradicional.

Ministro Barroso e Ronaldo LemosJustiça, regulação e o desafio do tempo

O Ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, em um papo muito interessante com Ronaldo Lemos refletiu sobre os três grandes desafios do direito diante da tecnologia: preservar a liberdade de expressão, manter o toque humano nas decisões e evitar que a IA reproduza preconceitos estruturais. “O direito precisa regular aquilo que ainda não consegue ver com clareza. E isso exige princípios, não fórmulas”, afirmou, ao citar a explosão da IA generativa e o artigo 19 do Marco Civil da Internet.

Mais do que uma palestra jurídica, foi uma aula de futuro ético: como alinhar tecnologia aos interesses humanos em tempos de transformação radical.

Um dos destaques do dia foi o estudo “Future Consumer 2027: Emotions”, apresentado pela WGSN, que propôs uma abordagem ousada e profundamente humana para entender o comportamento futuro do consumidor. Em vez de apenas rastrear dados demográficos ou tecnológicos, a pesquisa se concentrou nas emoções que moldarão decisões de compra nos próximos anos. Termos como Strategic Joy, Witherwill e Suspicious Optimism ganharam destaque como estados emocionais que guiarão escolhas conscientes, exigindo das marcas não apenas inovação, mas sensibilidade. Em um mundo marcado por fadiga, ansiedade e desinformação, o estudo aponta para uma nova era em que empatia, ludicidade e confiança serão os diferenciais mais valorizados na construção de marcas relevantes.

Se o primeiro dia do Web Summit Rio revelou tendências, o segundo nos convidou à ação. O Brasil apareceu não apenas como palco, mas como protagonista de modelos inovadores em dados, RH, direito e branding. A inteligência está, sim, cada vez mais artificial. Mas, quando bem aplicada, ela revela algo profundamente humano: a capacidade de imaginar, projetar e construir futuros desejáveis.

No Institute for Tomorrow, seguimos traduzindo esses sinais em estratégias e provocando as perguntas que realmente importam: não o que a tecnologia pode fazer, mas o que nós queremos fazer com ela.

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