O SXSW London 2025 marcou a estreia europeia de um dos festivais mais emblemáticos do mundo em inovação, cultura, tecnologia e criatividade. Mas não foi apenas uma transposição geográfica. Como debatemos no TomorrowCast, o evento representou um exercício de adaptação: de um modelo nascido no Texas para o contexto cultural de Londres — e, mais profundamente, de como a própria ideia de futuro se ressignifica ao atravessar fronteiras.
Ao longo de uma semana, mais de 20 mil pessoas se espalharam pelo bairro criativo de Shoreditch, ocupando igrejas, pubs, centros comunitários e ruas em um movimento que foi tanto planejado quanto espontâneo. Foram 500 sessões que desafiaram nosso olhar: ao invés de um festival de respostas, o que vivenciamos foi um festival de perguntas, de provocações e de beautiful collisions — os encontros improváveis que catalisam novos repertórios.
A experiência: quando o festival se funde ao bairro
Diferente de Austin, onde o SXSW transforma o downtown em sua própria identidade por alguns dias, Londres manteve a pulsação do cotidiano ao redor do festival. O evento se diluiu no dia a dia do bairro, o que trouxe uma camada de autenticidade às interações. Como refletimos no episódio, o caminhar entre uma palestra e outra se tornou parte essencial da experiência: era no meio do caminho, no café, no pub, na pausa forçada pela chuva londrina, que as trocas mais ricas aconteciam.
Essa característica destacou o valor da fluidez: um festival que propunha menos uma agenda rígida e mais a oportunidade de se deixar conduzir pelas conexões do momento.
Conteúdo: menos playbook, mais provocação
Se Austin muitas vezes nos brinda com playbooks e fórmulas de grandes marcas e metodologias consagradas, Londres propôs um olhar mais intimista e questionador. As trilhas do SXSW London abordaram desde as novas fronteiras da inteligência artificial até a ética do design, a reinvenção da música e as tensões entre tecnologia e autenticidade.
Em vez de soluções prontas, o que vimos foram questões abertas: como equilibrar o real e o emulado em um mundo de experiências cada vez mais digitais? Como resgatar a coragem criativa em tempos de excesso de ferramentas e escassez de propósito?
As sessões que mais impactaram nossa equipe foram justamente aquelas que colocaram em xeque os nossos próprios vieses: da rapper que captou os sons do Ártico de forma analógica para refletir sobre a verdade na música, à reflexão sobre como as marcas podem exercer criatividade com propósito, como no exemplo da MC Stephanie Stuart Williams ao provocar o público sobre criatividade e coragem.
Estrutura e formato: lições de um primeiro capítulo
Como todo primeiro ano, o SXSW London teve seus aprendizados. A estrutura dos espaços nem sempre comportou a demanda — salas lotadas, filas, e o desafio logístico típico de um evento que começa grande. O formato das palestras também suscitou debate: conteúdos ricos e especialistas de peso em painéis curtos, que por vezes deixaram a sensação de que o assunto terminava quando apenas começava a se aprofundar.
Ainda assim, o saldo foi positivo: o modelo menos engessado permitiu reconstruir planos ao longo do dia e tornou a experiência mais orgânica, mesmo diante do caos criativo. A programação noturna, com shows até altas horas, reforçou o DNA musical britânico e ampliou o diálogo entre tecnologia e cultura.
O que faltou e o que precisamos reivindicar para o futuro
Apesar da onipresença da inteligência artificial — das discussões sobre agentes autônomos às tensões éticas do design algorítmico —, sentimos um esvaziamento da pauta de diversidade, equidade, inclusão e sustentabilidade. Como comentamos no episódio, temas que deveriam estar no centro do desenho de futuros caíram em nichos. Essa ausência nos obriga a refletir: que futuros estamos construindo quando deixamos essas conversas na margem?
Beautiful Collisions: o verdadeiro valor está no repertório
No fim, o maior legado do SXSW London 2025 foi o repertório que se ampliou. Não saímos com respostas lineares, mas com novos ângulos, mais perguntas e um convite ao desconforto criativo. Porque o futuro — como reforçamos no TomorrowCast — não se constrói com certezas absolutas, mas nas colisões entre ideias, culturas, tecnologias e valores.
Londres nos lembrou que o sucesso não está em replicar fórmulas, mas em criar espaços onde a inovação se funde à humanidade. E que, no final, o que levamos desses encontros é o que nos torna capazes de projetar futuros mais conscientes, inclusivos e desejáveis.
Neste episódio especial do TomorrowCast sobre o SXSW London 2025, recebemos Tiago Maranhão – CEO da Ludorum Media e Pablo Baars – CCO da Baars Creative Design para uma conversa profunda sobre o evento que marcou a chegada do SXSW à Europa. Um episódio que vai além da comparação com Austin e propõe uma reflexão sobre como os futuros são moldados quando inovação, cultura e tecnologia colidem em uma nova geografia.
Ao longo da conversa, o episódio explora o valor das beautiful collisions, o papel do repertório como ferramenta para decifrar o futuro e a importância do desconforto criativo diante das grandes questões do nosso tempo: como equilibrar tecnologia e humanidade? Como recuperar o sentido da criatividade em tempos de excesso de ferramentas? Como resgatar diversidade, inclusão e sustentabilidade como pautas centrais para futuros desejáveis?
Entre insights sobre ética na inteligência artificial, experiências reais em um mundo emulado e a coragem criativa como norte, o episódio faz um convite à escuta crítica e à reflexão sobre o papel de eventos como o SXSW na ampliação de repertórios e no desenho de futuros mais conscientes.
O episódio integra a cobertura da Missão SXSW London 2025 do Institute for Tomorrow — reforçando o compromisso de traduzir aprendizados globais para contextos locais.
Dê o play no episódio:
Este não é só um episódio sobre um festival. É um convite a refletir sobre como as colisões criativas nos ajudam a desenhar novos caminhos para o futuro.