O futuro dos negócios pede mais do que inovação: ele exige coragem, presença e design com significado
Reflexões a partir do SXSW 2025 com Questtonó QNCO para o Institute for Tomorrow
Enquanto alguns foram a Austin em busca da próxima tendência tecnológica, da disrupção definitiva ou do pitch perfeito, outros — como Léo Massarelli e Gustavo Rosa (Gus), da Questtonó QNCO — decidiram caminhar por trilhas menos óbvias. O episódio 04 do TomorrowCast SXSW 2025 não é sobre o que brilhou nos palcos principais. É sobre o que pulsa nas entrelinhas: o cansaço com a eficiência sem sentido, a superficialidade dos discursos prontos, o excesso de dados e a ausência de profundidade.
Neste episódio, debatemos o futuro dos negócios por uma lente pouco explorada: a do sentir, do brincar, da coragem de se colocar — mesmo em um mundo que exige velocidade, produtividade e performatividade constante.

SXSW 2025: o oráculo ou o espelho?
Muito se falou sobre as ausências do festival: onde estava a China? Cadê a sustentabilidade? E o DEI? Mas talvez a questão não esteja no festival em si, mas nas expectativas colocadas sobre ele. Como nos lembra Léo, “criamos a imagem de que o SXSW seria um oráculo, mas o mundo está rápido demais para se resumir a uma curadoria de uma semana”. Gus complementa: “as pessoas foram buscar respostas, mas deveriam estar buscando melhores perguntas”.
A crítica é contundente, mas construtiva: em vez de apontar o dedo para a curadoria, o episódio propõe um novo jeito de olhar — mais curador, mais autoral, mais atento às camadas escondidas da experiência. E, acima de tudo, mais conectado com a realidade local, brasileira e latino-americana.
Design: do pensamento ao fazer, do verbo à experiência
A Questtonó traz ao centro da conversa o design em sua forma mais potente: não como estética ou ferramenta de inovação, mas como processo contínuo de observação, interpretação e construção. “Design é entender verbos: o que as pessoas querem fazer, sentir, trocar?”, diz Gus. A pergunta muda tudo. Em vez de pensar em produtos ou features, o foco está nos comportamentos, nas culturas e nas dores não resolvidas.
A inovação, neste olhar, não está apenas no que é novo, mas no que é necessário. E, muitas vezes, a resposta está ali ao lado — nos possíveis adjacentes, nas soluções que no são headline de keynote, mas que transformam vidas e organizações.
A falácia da produtividade e o burnout das cidades
Um dos pontos mais intensos da conversa é a crítica à lógica produtivista que domina o discurso da inovação. “Hoje a produtividade virou um fim em si. Mas produtividade para quê? Para quem?”, provoca Camila. Vivemos em cidades burnoutadas, onde o excesso de estímulos, tarefas e métricas substituiu o prazer no fazer.
O episódio não romantiza o passado, nem recusa a tecnologia. Ao contrário: reconhece o poder da inteligência artificial — mas insiste que ela deve ser um amplificador do humano, e não seu substituto. “Se a IA assume o racional, sobra para nós a emoção, a criatividade e o discernimento. Estamos preparados para isso?”, pergunta Camilo.
Coragem: de ato isolado a cultura estratégica
Entre os grandes conceitos trabalhados neste episódio está a ideia da coragem como cultura. Historicamente associada a gestos individuais, a coragem aqui é reposicionada como um pilar organizacional, como um mindset necessário para navegar um mundo incerto, veloz e em constante transição.
É a coragem de abandonar padrões seguros. De errar. De não saber. De experimentar. De dizer “isso não faz sentido” mesmo quando todos ao redor seguem repetindo o mesmo playbook. E, mais do que isso, é a coragem de criar culturas onde brincar, imaginar e sentir são bem-vindos — e estratégicos.
Autenticidade e profundidade: os novos verbetes do agora
Entre os muitos insights trazidos, um se destaca: em um mundo de conteúdo gerado por IA, de interações robotizadas e métricas viciadas, autenticidade e profundidade voltam a ser diferenciais competitivos. “Tudo está muito raso”, alerta Léo. E nesse mar raso, quem conseguir mergulhar — com repertório, com verdade, com sensibilidade — vai encontrar valor real.
A profundidade não está em fazer mais. Está em fazer melhor, com mais consciência, mais presença, mais escuta. A inovação do futuro, como diz a Questtonó, talvez esteja menos na disrupção e mais na reconstrução de sentido.
Conclusão: não é sobre descobrir o futuro. É sobre construí-lo com intenção.
Esse episódio é um lembrete de que a inovação não precisa — e talvez nem deva — ser barulhenta. Às vezes, ela começa com silêncio, escuta e desconforto. Com a decisão de não seguir o fluxo da eficiência cega, mas sim cultivar espaços para a imaginação, o sentir e a coragem.
E se o futuro dos negócios depender, cada vez mais, daquilo que nos torna humanos, então design, emoção, curiosidade e brincadeira deixarão de ser coadjuvantes — para se tornarem centrais.
O episódio faz parte da cobertura da Missão SXSW 2025, organizada pelo Institute for Tomorrow, com patrocínio da Cielo e da Diageo, e apoio de Abedesign, Questtonó QNCO, aMadre, Loy, Hands, Coletivo Design e 20Dash.
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