No quarto dia do SXSW London 2025, o futuro se encontrou no cruzamento entre inovação tecnológica e o imperativo humano. As conversas, do mundo acelerado da Fórmula 1 à revisão crítica dos espaços digitais, expuseram os dilemas centrais que desafiam a construção de um amanhã mais justo, sustentável e inclusivo.
Na narrativa do Institute for Tomorrow, este dia nos lembra que não basta inovar — é preciso inovar com propósito, responsabilidade e a coragem de questionar narrativas dominantes.
Fórmula 1 e LEGO: Cultura de Alta Performance e Experiência Imersiva
A sessão “F1: Hitting the Accelerator” trouxe James Vowles, da Williams Racing, para discutir como a F1 está transcendendo o automobilismo e se tornando um fenômeno cultural global. Falou-se sobre a transformação cultural da Williams, a liderança como compromisso coletivo e o impacto de “Drive to Survive” em renovar a base de fãs.
Mas não foi só velocidade e adrenalina: a F1 também revelou sua face colaborativa com LEGO, criando experiências híbridas em eventos como o Grand Prix de Las Vegas. A colaboração resultou em ativações culturais e tecnológicas que aproximam as corridas do público e transformam a F1 em uma plataforma para inovação e co-criação.
“A F1 deveria ser o tipo de esporte que você assiste porque sabe que algo incrível vai acontecer. Você só não sabe o quê.”
Essa frase resume o espírito de imprevisibilidade e a força simbólica do automobilismo e da cultura que se forma ao redor dele.
Agentes de IA, SaaS e Serviços Financeiros: A Nova Era da Colaboração Digital
Na conversa “Agentes de IA, SaaS e Serviços Financeiros”, vimos como a inteligência artificial está evoluindo de simples respostas automáticas para agentes capazes de raciocinar e colaborar com humanos. A adoção em massa e o papel do código aberto (Agents SDK) destacam o potencial da IA para redesenhar processos críticos e personalizar serviços.
Um ponto marcante foi a fala de um dos palestrantes: “Eu apenas deleguei tarefas para o Codex e tudo estava pronto para lançar – é o momento em que você sente o AGI.”
Essa sensação de delegar para uma IA cada vez mais próxima da autonomia (o “momento AGI”) mostra como a fronteira entre humano e máquina está se dissolvendo.
Mas, como lembrou a conversa, confiança e usabilidade seguem sendo a chave para transformar hype em impacto real.
Indústria de Jogos e Educação: O Legado de Ian Livingston
Sir Ian Livingston, lenda viva da indústria de jogos, refletiu sobre cinco décadas de inovação — da fundação da Games Workshop ao impacto global de Tomb Raider. Livingston insistiu que a educação deve empoderar crianças para serem criadoras de tecnologia, não meras usuárias.
“Jogos ensinam pensamento crítico e resolução de problemas — competências que a escola precisa valorizar.”
A fala reforça o papel dos jogos como espaços de aprendizagem e motores de alfabetização digital e criativa.
OnlyFans: Economia Criativa e Desafios Éticos
Na entrevista com Kelly Blair, CEO do OnlyFans, discutiu-se o modelo de monetização direta que já pagou mais de 20 bilhões de dólares a criadores. A plataforma, que nasceu no universo adulto, está se expandindo para outras áreas como esporte e cultura, defendendo a autonomia e o respeito aos criadores.
“Não é sobre gênero, mas sobre dedicação e esforço — o sucesso depende disso, não de quem você é.”
A fala reforça que, apesar dos estigmas, o OnlyFans é um espaço legítimo na economia criativa e que precisa de regras claras de governança para proteger criadores e usuários.
Ozempic e o Debate Ético: Remédio, Estigma e Saúde
O painel “Ozempic & friends: society’s saviour or saboteur?” levantou dilemas éticos urgentes: esses medicamentos são salvadores ou perpetuam a cultura da magreza? Dr. Anna Colvin e Dr. Simon Cook destacaram benefícios clínicos (redução de risco de doenças como AVC e Alzheimer) e alertaram para riscos emocionais — especialmente quando usados sem suporte psicológico.
“Esses medicamentos são ferramentas, não curas — e ignorar as causas emocionais do comer é perigoso.”
A cultura de dieta e o moralismo estético ainda rondam esses temas, lembrando que saúde vai além de números na balança.
Saúde Mental: Uma Crise Global e o Papel da Comunidade
A sessão “The Mental Health Crisis is Global” foi um chamado à ação. Especialistas ressaltaram como a ansiedade, depressão e suicídio em jovens estão crescendo — e como a cultura do silêncio está mudando. Iniciativas como a do Child Mind Institute, que combina prevenção nas escolas e intervenções baseadas em evidências, mostraram que saúde mental precisa de um olhar integrado e compassivo.
“Não sistematizamos o rastreio de saúde mental como fazemos para altura, peso ou câncer — e isso é um erro grave.”
A frase resume a urgência de ver a saúde mental não como um luxo, mas como uma prioridade.
Desinformação, Neutralidade e Diversidade na Wikipédia
Encerrando o dia, a conversa com Jimmy Wales, cofundador da Wikipédia, foi um lembrete do poder da construção coletiva do conhecimento. Ele defendeu a importância de diversidade e transparência para manter a neutralidade — e como a IA, embora promissora, não substitui o olhar humano crítico.
“A diversidade é fundamental para a qualidade da enciclopédia — sem ela, temos buracos no conhecimento.”
Uma chamada direta ao compromisso com a pluralidade de vozes como ferramenta essencial para combater a desinformação.
Um Fio Conduzido pelo Institute for Tomorrow
Em todas as conversas, percebemos um fio invisível que nos une:
Como equilibrar a força das novas tecnologias com os valores humanos que nos definem?
Como transformar avanços digitais em impactos sociais positivos e genuínos?
Acreditamos que as respostas surgem do encontro entre inovação e intencionalidade. Precisamos, como sociedade, investir na alfabetização crítica — seja no uso da IA, no consumo de conteúdo, no engajamento com novos modelos de saúde ou no cuidado com o corpo. Inovar não é apenas adotar tecnologias, mas moldá-las para servir às pessoas — todas as pessoas, em toda a sua diversidade.
O quarto dia do SXSW London 2025 mostrou que o futuro está vivo em cada pergunta. E que a urgência de reconciliar progresso com ética e justiça não é retórica — é o maior desafio que enfrentamos.
A presença do Rei Charles hoje no evento trouxe um peso simbólico adicional: a inovação e a tradição podem — e devem — caminhar lado a lado. A urgência de reconciliar progresso com ética e justiça não é retórica — é o maior desafio que enfrentamos.
Na missão do Institute for Tomorrow, seguimos comprometidos em ajudar empresas e pessoas a navegarem essas questões, sempre com um olhar de quem acredita que o futuro se constrói agora, com escolhas que honram a humanidade.